Reproduzido do Observatório da Imprensa, 28/1/2014;
Por: Sergio Amadeu da Silveira
Prefácio de A Onda Rosa-Choque – reflexões sobre redes, cultura e política contemporânea, de Rodrigo Savazoni, Editora Azougue, Rio de Janeiro, 2013
A Onda Rosa-Choque é um esforço de reflexão sobre a amplitude e a intensidade política que a cultura digital pode liberar na sociedade brasileira. Trata-se de um conjunto de análises do potencial transformador do compartilhamento de produtos e bens culturais a partir das redes de informação. Mas, os textos aqui reunidos não se limitam as tentativas de pensar o presente, eles querem disputar os caminhos para o futuro.
Enquanto escrevo este prefácio, mobilizações explodem neste Brasil de junho de 2013, como se inspiradas na lógica do hackativismo. Sem grandes líderes, sem carros de som, organizadas por microarticuladores, com o apoio de coletivos culturais, radicais, ambientais, nerds, hackers, rappers, jovens da periferia, entre tantos outros mobilizadores, os protestos desafiam a compreensão daqueles que debochavam dos “militantes de sofá”, “agitadores do Twitter”. Pois então, estamos assistindo a um movimento distribuído em que os “sofás” desceram para as ruas.
Os textos escritos pelo produtor cultural, pesquisador e ativista Rodrigo Savazoni fazem parte da antessala dessa emergência das redes e da tomada das ruas que tanta falta fazia ao país. A onda rosa choque contra o poder careta, verticalizado, excessivamente burocratizado, tecnocrático, insensível e opaco parece estar ocorrendo agora, com novas cores além do azul e vermelho, bem mais misturadas, remixadas com as diversas tonalidade ideológicas que assumiram as ruas.
Hora boa
Savazoni já perguntava em suas reflexões sobre o que estaria em debate: “Centralização contra descentralização? Formas de ação espontâneas ou organizadas? Ações emergentes, construídas de baixo para cima, ou ações de impacto, construídas clandestinamente e compartilhadas de cima abaixo?” De certo modo, tudo está em disputa. O processo é tão importante quanto suas finalidades. Se os ativistas pela radicalização da democracia não se dispersarem nas redes distribuídas e não se envolverem na intensa conversação das plataformas de relacionamento, poderemos ver a onda rosa se quebrar diante de ondas conservadoras.
Esperamos que o contágio da ética hacker, dos coletivos libertários, das ocupações, dos festivais de cultura digital, dos pontos de cultura, sejam superiores em encantamento e convencimento social do que o reacionarismo dos novos capitães do mato, da criminalização do compartilhamento de arquivos digitais e dos downloads, dos colonizadores genéticos, dos fundamentalistas contrários a diversidade cultural, religiosa, étnica e de orientação sexual.
As multidões estão ativas. Redes de opinião enfrentam outras redes de opinião. A bipolaridade se desfaz em meio aos múltiplos conflitos. Agora, é bem evidente que poder comunicacional cada vez mais está na capacidade de formar e reconfigurar redes, como bem relatou o sociólogo Manuel Castells. Os textos que Rodrigo Savazoni discutem de modo instigante esse cenário. São escritos mais otimistas que cautelosos. Também por isso, este livro vem em boa hora. Certamente, é fruto da emergência dos movimentos interconectados e da experiência efetiva de Rodrigo, principalmente na Casa de Cultura Digital. É uma tentativa de influenciar e destacar que os ciberviventes precisam hipertrofiar a biopolítica das modulações proibicionistas; mais do que o “do-in antropológico” do Juca-Gil, é preciso estimular o hackeamento, a inversão, a ocupação e outras linhas de fuga.
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Leia o livro completo “A Onda Rosa-Choque – reflexões sobre redes, cultura e política contemporânea” de Rodrigo Savazoni